segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Num dia em que caíram linguados do céu

Sentado numa cadeira de praia, comodamente instalado, mirando um horizonte azul que se perdia longe, quase tocando o fim do Mundo, Jorge esperava sem pressa, molhando os lábios num copo de vinho branco, saboreando cada gole, como se o tempo tivesse parado só para si.

Dias assim deveriam ser eternos, junto de quem se quer muito, pensava, molhando o corpo em água, parecendo importada de um qualquer clima tropical.

Um sol que queima devagar, quase pedindo licença para poder tocar os corpos, deixando-os dourados, num final de um dia mágico.

Olhando o céu com um azul, que só um rio como o seu podia rivalizar, observava uma luta violenta, trágica, de duas gaivotas, reclamando um linguado aterrorizado, antevendo um final de vida sem glória.

Jorge decide intervir.

Um grito forte assusta-as, o peixe cai junto aos seus pés. Pega nele como um Pai segura um filho pequeno.

Leva-o para a água lavando-o, e, proferindo palavras de encorajamento, deixa-o partir para uma vida que segundos antes parecia não ter futuro.

É assim o Jorge, coração bom, amigo dos animais.

O linguado não o vai esquecer. Talvez até, um dia, queira por ele ser saboreado.
E pode Jorge voltar a casa feliz por ter salvo uma vida mais.


Para o meu amigo Jorge Português que não quis assumir que o linguado deste conto acabou frito e devorado pela sua companheira Lúcia.

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